Você chega às 10. Lê e responde vários e-mails, participa da famosa reunião inútil da manhã, sai pra almoçar, volta as 15, lê outros mil e-mails, atende fornecedores, o telefone não para de tocar, várias pessoas entram na sua sala pra tirar dúvidas. Dá uma passadinha no Facebook e no Twitter, lê aquela piada engraçadíssima que seu amigo mandou, repassa, conversa com alguns no MSN, responde a outros e-mails, paga umas contas pelo bankline. Então, você olha no relógio, já são 20h. Está na hora de ir embora!
Com um pequeno toque teatral, essa é a rotina de grande parte de quem tem um trabalho formal. A palestra de Jason Fried no TEDx Midwest, em outubro/2010, defende o pensamento de que as organizações e todas as suas burocracias inibem um trabalho de qualidade. Ele pergunta: “Para qual lugar você iria se quisesse se inspirar, ou escrever um livro, ou fazer um projeto...?” As respostas são inúmeras: “minha varanda, um jardim, praia, uma casa na montanha, uma rede”... A questão é que ninguém, invariavelmente, responde “no trabalho”. As empresas investem altos recursos financeiros em instalações, tecnologia de ponta e mobiliário para ter a grande maioria de sua equipe insatisfeita ou produzindo muito menos que sua capacidade. Quanto trabalhos realmente bacanas você fez nos últimos meses? Possivelmente poucos. Mas e se você tivesse num local inspirador, sem interrupções, dedicando-se totalmente àquela idéia, pesquisando, lendo, aprofundando conhecimentos, analisando riscos e retorno? Quantas vezes você tem tempo para realmente se debruçar num projeto? Não são poucos os pedidos que chegam com prazo de 1 dia. Como não dar uma solução “de prateleira” quando você só tem 15 minutos pra pensar? Somos repentistas?
O processo de um bom trabalho se assemelha ao ato de dormir. Você vai pra um lugar aconchegante e seguro, reduz a luminosidade, faz silêncio, relaxa e dorme. Imagine tentar dormir com o toque do telefone, alguém te chamando, pessoas falando alto, e-mails urgentes chegando? Você não consegue. Dorme mal.
E dá pra trabalhar só de casa? Ainda não, em muitos casos. Mas dá pra equilibrar, especialmente quando o negócio da empresa é baseado em idéias. Idéias brilhantes são raras. Por que será? Seria porque nos dias de hoje estamos todos correndo contra o relógio, desempenhando milhares de funções ao mesmo tempo e sendo medíocre em todas? Ou seria pela miopia do nosso modelo de trabalho que não percebe que as boas idéias não podem ser programadas com hora e lugar? Sugiro uma reflexão.
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